PLANTANDO ÁRVORES
Nesses meus anos todos, tenho plantado árvores e amado muito. Esse muito não é o muito de demais, mas o muito de bastante. Os amores deixam marcas, e as árvores deixam histórias.
Há muitos anos atrás plantei no pátio dos fundos um limoeiro. Era generoso e vergava seus galhos com um limão cheiroso e sumarento. Enchia seu chão com as frutas, que de tantas exagerava. Eram tempos de uma dinastia diferente, aquele homem, então meu marido, gostava da poda e, entendendo ser necessária, possuiu-se de machado, tesoura, facão, e atirou-se à tarefa. Com as podas o limoeiro foi diminuindo, retraindo-se e ano após ano, transformou-se num mini-limoeiro. Antes de virar bonsai ele secou, morreu.
Atualmente a dinastia é outra. Plantamos na frente de nossa casa uma Árvore da Felicidade. Era uma árvore pequena, nada indicava seu portentoso porte, mas cresceu tanto que arrebentou parte da calçada e empurrou a grade para um lado, e continua rumo às nuvens.
O jardineiro retira alguns galhos secos, mas nada impede a sua exuberância, embora alguns vendavais vez por outra modifiquem sua forma e baixem um pouco o seu topete. Ela retribui a liberdade permitida me brindando com uma cortina verde na janela de meu quarto. Seu avanço dadivoso me assusta um pouco, às vezes penso em colocá-la na linha usando tesouras, machado, facão. Mas os tempos são outros, a dinastia é magnânima e ela continua tresloucada e feliz, perto do céu.
Às vezes, na inquietude que me persegue a vida toda, penso em uma horta, com canteiros baixos, plantas pequenas, cheirosas, aromáticas. Penso na selvageria do manjericão que tudo invade e emaranha. Imagino a delicadeza do alecrim, me deixando esperar por ele que se esconde e não viceja. E no cheirinho da cebolinha despertando meu apetite fora de hora. E então desisto embalada pela permanência do que já é, a minha bela e alta árvore da felicidade.
Carmen Silveira
Porto Alegre, março de 2010
quarta-feira, 28 de abril de 2010
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